O Tribunal Regional Eleitoral vai investigar uma denúncia, protocolada ontem, dando conta de que o vereador Anderson Santos (PDT), estaria usando máquinas como tratores e retroescavadeiras para angariar votos em Nova Iguaçu, na Baixada.

A investigação será conduzida pelo juiz eleitoral Otávio Teixeira. Anteontem, moradores do bairro Brasil, ouvidos pelo EXTRA, disseram que o parlamentar seria responsável pela obra em que uma retroescavadeira atropelou e matou o menino Carlos Eduardo da Costa Cardoso, de 11 anos. Na tarde de ontem, o vereador divulgou uma nota alegando não ter responsabilidade sobre a ação que resultou no acidente. Ele também foi procurado pela reportagem em um comitê eleitoral, na Câmara de Vereadores e por telefone, mas preferiu apenas se pronunciar por meio da nota.

A retroescavadeira que matou o menino fazia uma obra clandestina, conforme afirmou, ontem, Celso da Silva, de 63 anos, que operava a máquina no momento do acidente, em depoimento na 58 DP (Posse). Ele chegou à delegacia acompanhado de dois advogados, em um carro importado. Celso contou que abria uma passagem em um barranco para ligar duas ruas (Pernambuco e Ceará), a pedido de um homem conhecido como Marquinhos, ligado à associação de moradores, quando o veículo perdeu o freio, ficou desgovernado e atingiu a criança. Segundo Celso, o trator não pertence à prefeitura de Nova Iguaçu, mas a um homem identificado como Valdecir.

Marquinhos e Valdecir deverão ser identificados e interrogados, hoje, pelo delegado Marcus Henrique Oliveira Alves. Ao sair da 58 DP, Celso classificou o atropelamento como uma fatalidade e negou ligação com o vereador Anderson Santos (PDT). Candidato à reeleição, ele foi visto no local da obra na manhã do dia do acidente.

Delegado vai ouvir mais testemunhas

O depoimento do tratorista não levou o delegado Marcus Henrique a descartar uma possível ligação entre o vereador e a obra clandestina. Segundo o policial, ainda é preciso ouvir mais testemunhas para saber se o parlamentar tem ou não alguma participação no episódio. Ontem, dois moradores que presenciaram o acidente, revelaram que a retroescavadeira já havia apresentado defeito, pouco antes de o menino Carlos Eduardo ser atropelado.

- A máquina já havia perdido o freio pouco antes do acidente. Ela foi rebocada por um outro trator até o topo do barranco, onde continuou o serviço. Algum tempo depois, a retroescavadeira desceu em alta velocidade e arrastou o menino - revelou David Moreira, que presenciou o acidente ao lado do irmão, Jonatas Moreira.

Criança é enterrada

Ontem à tarde, o corpo de Carlos Eduardo foi sepultado no cemitério de Nova Iguaçu. Parentes do menino preferiram não comentar mais o caso. Hoje, uma perícia será realizada no trator. Anteontem, peritos recolheram no local do acidente, uma peça que se soltou da máquina.

Ontem, Anderson Santos desmentiu que tenha sido visto inspecionado a obra, horas antes do acidente. Sobre a obra, ele afirmou, em nota: "(...) não tenho qualquer responsabilidade, como também não é de minha responsabilidade a ação de limpeza de ruas na localidade. (...) Manifesto minha solidariedade à família do menor e reafirmo que não providenciei esta ou qualquer outra obra no bairro, sobretudo porque respeito as regras do processo eleitoral."

Leia, na íntegra, a nota do vereador Anderson Santos

“Eu, vereador Anderson Santos, do município de Nova Iguaçu, quero esclarecer que sobre a tragédia que vitimou o menor CARLOS EDUARDO, no bairro Brasil, Nova Iguaçu, no dia de ontem, conforme amplo noticiário da imprensa, não tenho qualquer responsabilidade, como também não é de minha responsabilidade a ação de limpeza de ruas na localidade.

A relação desse lamentável episódio com minha atuação política resulte, talvez, do fato de que na região onde ocorreu o acidente sou muito conhecido e a proximidade das eleições motiva boatos e transforma uma tragédia em fato a ser explorado negativamente no mundo político.

Manifesto minha solidariedade à família do menor e a reafirmo que não providenciei esta ou qualquer outra obra no bairro, sobretudo porque respeito as regras do processo eleitoral."